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Cyberbullying: uma agressão que vai além do mundo virtual


Por Leandro Suriani da Silva* 

É muito importante a discussão sobre Cyberbullying atualmente. A internet é cada vez mais utilizada por crianças e adolescentes. Quem convive neste meio social sabe que é frequente a prática do deboche. A prática do bullying sempre ocorreu, no entanto, o ponto hoje é que temos à disposição a internet para potencializar e ampliar o poder de agressão.

Há três fatores principais que tornam o cyberbullying ainda mais cruel do que o bullying. Primeiro porque se trata de uma prática que acontece no meio virtual, em que as intimidações são mais frequentes e insistentes – já no bullying, a ameaça é física e presencial. O segundo ponto a se considerar é que os jovens utilizam cada vez mais ferramentas de internet e instrumentos para troca de mensagens instantâneas, e muitas vezes se expõem mais do que devem. Por fim, a utilização da internet dá a impressão de falso anonimato.

Discussão frequente é a possibilidade em se criar um sistema antibullying. Para a discussão deste tema, imprescindível a presença dos pais, das escolas e da efetiva atuação governamental.

É dever dos pais fiscalizar o uso da internet pelos seus filhos, perceber qualquer alteração de comportamento, checar quais sites o menor está acessando, por que está há tanto tempo na frente do computador. Não é aconselhável deixar os filhos usando livremente a internet.

A escola, por outro lado, deve criar programas para incentivar o bom uso da internet e reprimir desde cedo a prática do cyberbullying. Nos Estados Unidos, após o suicídio de uma menina em 2006, o Congresso começou a discutir esse tema e identificou que apenas reprimir a conduta não resolveria o problema. Chegou-se então à conclusão de que a questão deve ser resolvida na origem, ou seja, instituir a ideia entre as crianças de que praticar o bullying é reprovável e que não devem ser coniventes com tal postura. Usualmente, as vítimas tendem a ficar omissas, deixando de noticiar o fato aos pais ou a escola.

Algumas práticas são aconselháveis para evitar a prática do cyberbullying no ambiente escolar. Uma delas é disseminar entre os alunos valores como o respeito à diferença, através de um relacionamento saudável com os colegas e os professores. Também é importante dar liberdade para se expressarem em sala de aula – para isso, os professores precisam estreitar o relacionamento com seus alunos. Em resumo, a escola deve dar o exemplo, isto é, evitar uma postura de autoritarismo ou violência, demonstrar claramente os limites em relação a boa utilização da internet, tempo de acesso e conteúdos, instituir políticas de ensino para alertar sobre os riscos da exposição indiscriminada e divulgação de dados pessoais.

Atualmente tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que tende a considerar como crime a prática do cyberbullying. O PL 21/2013, de autoria do Senador Clésio Andrade, propõe a alteração do Código Penal para tipificar como crime a prática do bullying virtual (art. 140-A), em verdadeiro ato de repressão à conduta. Por outro lado, o Senador Gim Argello, responsável pela redação do PL 228/2010 propõe que os estabelecimentos de ensino, públicos ou privados, tenham o dever de promover um ambiente escolar seguro, adotando estratégias de prevenção e combate de intimação e agressão neste espaço.

Ocorrendo a prática do cyberbullying, devem os pais dialogar abertamente com os filhos e levar o fato para a escola (professores, diretoria e coordenação). Além disto, devem noticiar o fato a uma delegacia (especializada em crimes virtuais ou não) e procurar um advogado para propor medidas que visem identificar quem foi o causador do dano, ou seja, quem postou o conteúdo na internet, caso seja desconhecido. O menor poderá ser responsabilizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Apesar de os provedores terem sim meios de denúncia de conteúdos abusivos e políticas próprias para cuidar do cyberbullying, não podemos terceirizar a esses prestadores de serviço o dever de monitorar conteúdos envolvendo cyberbullying. Cabe aos pais fiscalizar o uso da internet e as escolas instituírem programas que visem educar e conscientizar sobre a utilização da web de forma positiva e que não agrida ou prejudique outras pessoas.

*Advogado, mestrando em Direito Processual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Eletrônico pela FGV, em Direito Societário pelo INSPER/SP, em Direito Internacional Privado pela Université de Genève, em Direito Regulatório e da Concorrência pela ESA e em Direito Empresarial pela EPD. É coordenador da Área Cível da Dantas, Lee, Brock & Camargo Advogados.

Fonte: Fator Brasil


Bullying virtual, qual o papel das escolas?


Leticia Batistela*

Nos últimos dias, um fato (e, principalmente, a sua consequência) trouxe a discussão sobre a responsabilidade de menores sobre ataques virtuais.

É uma situação complexa, mas vou centralizar sobre o papel das escolas nesta nova realidade. Cabe a ela ser a educadora neste novo ambiente e preparar jovens para esta “realidade virtual” ou apenas mediar conflitos? Cabe ressaltar que muitos destes conflitos originam-se no ambiente escolar. Sim, pois boa parte desses ataques partem de colegas que partilham não só o dia a dia, mas os mesmos amigos, professores e ambientes sociais. Precisamos tratar sem superficialidade esse canhão virtual que pode deixar rastros avassaladores em adolescentes que vivem essa fase tão conturbada, em que muitas vezes ser aceito em um grupo é mais importante do que qualquer outro valor. Uma foto sensual tirada no banheiro do colégio aos 14 anos pode ser facilmente gravada em um dispositivo e usada anos depois quando essa garota estiver disputando um cargo profissional. Todos curtem quando as fotos são expostas. Foi noticiado que uma adolescente tirou a própria vida em razão dessa exposição “curtida”. O que ocorreu? O agressor foi apedrejado pelas próprias pessoas que curtiram as fotos. Esse ultraje não deveria ser demonstrado antes? Ou essa reação é apenas sobre a consequência e não sobre a exposição em si? Posta a crise, como as escolas podem exercer seu papel de educadoras?

As escolas devem trabalhar na conscientização destes jovens, o uso de redes sociais deve ser assistido desde as séries iniciais, mostrando os riscos de uma exposição exagerada e lembrando que os pais são responsáveis jurídicos sobre um menor agressor. Lembro que caso a agressão ocorra no ambiente da escola, esta pode ser responsabilizada. Essa inconsequência deve ser tratada de forma séria, e os jovens, seus pais e seus responsáveis devem ser cientificados das consequências de uma exposição virtual para que essa liberdade não deixe um gosto amargo de arrependimento.

*Consultora jurídica no uso da TI

Bullying, termômetro da moral da escola


Jacir J. Venturi*
A intensidade do bullying indica o quanto moralmente a escola está comprometida. E onde mais se pratica? Segundo pesquisas, nessa ordem: salas, recreios, entradas e saídas. No ambiente escolar, essa patologia pode se disseminar como decorrência da falta de regras claras e de punição adequada, conflitos mal resolvidos, ausência de uma cultura mais humana no colégio ou em casa. Aos professores e pais cabem duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a prática de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos diferentes. Ação vigilante e punitiva sobre os agressores. Em resumo: ação como remédio e prevenção pelo comportamento ético.

A escola é um laboratório para a vida adulta. Evidentemente, o mundo do trabalho é competitivo e, em determinados momentos, a tolerância às hostilidades é necessária. Esse aprendizado deve ser gradual – não pontualmente intenso, uma característica do bullying – para os ensinamentos de que o caminho a ser percorrido na vida não é plano, florido e pavimentado. Quem não foi alvo de apelidos, gozações, ofensas em sua trajetória escolar?

Em boa medida, a escola deve punir. Num crescendo, o educando vai assimilando as oportunas lições das alegrias e agruras na convivência com os colegas e destarte torna-se mais robusto para o enfrentamento dos desafios e frustrações. As raízes de um carvalho só se fortalecem pela ação das inclementes rajadas de vento. E cada vitória tem o sabor de uma perdoável vingança, como as palavras de Kate Winslet – vítima por ser uma adolescente rechonchuda – a uma revista britânica após receber o Oscar de melhor atriz por sua atuação em O Leitor: “Onde eles [seus agressores] estão agora?”

É um exemplo de superação. Há um outro extremo, fruto de agressores sistemáticos e que agem sadicamente. É um solo minado, com consequências nefastas, como a tragédia numa escola do Rio, em 2011, quando 12 alunos foram assassinados por Wellington de Oliveira. Um legado trágico sucede suas palavras escritas na véspera: “Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com os meus sentimentos. Embora meus dedos sejam responsáveis por puxar o gatilho, essas pessoas são responsáveis por todas estas mortes, inclusive a minha”.

Essa violência repetida e praticada entre iguais deixou marcas leves em Kate e profundas em Wellington. São marcas que geraram sofrimento, provocadas pela insensibilidade moral do bully (agressor). É necessária uma ação pedagógica e punitiva, pois os estudos comprovam que a criança (ou adolescente) praticante do bullying, quando adulta, tenderá à violência doméstica e desvios de conduta como furtos, alcoolismo, uso de drogas e crimes. Nós, educadores, devemos atacar as causas para que a consciência não nos acuse quando vierem as consequências.

*Professor, autor de livros e presidente das escolas particulares do Paraná (SINEPE/PR).

A vitória contra o bullying nas escolas


Erika de Souza Bueno*

O bullying não é coisa da idade. É coisa de crianças, adolescentes e jovens muito malpreparados para a vida. São nossos alunos e, mesmo que tentemos negar, podem também ser um de nossos filhos. Estão na “flor da idade”, têm a força e a vitalidade próprias da juventude. Contudo, são pessoas que não sabem empregar tais características para o bem, envolvendo-se em atividades para “aproveitar melhor a vida”.
Mal sabem elas que existem formas mais eficazes de se viver, por mais que os meios de comunicação, inúmeras vezes, enalteçam o mal, o erro e a consequente violência. Agindo violentamente sem nenhuma resposta satisfatória, acreditam mesmo que podem assim viver sem maiores consequências. Afinal, aprenderam que a violência seria o meio mais rápido de conseguir o que querem. Só não aprenderam ainda que tudo o que vem fácil vai embora tão repentinamente como a nuvem da manhã que parece não encontrar mais espaço para ela.

Os vilões dessa história já tiveram sua consciência vitimada por conceitos impróprios a uma vida em sociedade. Eles escolhem a vítima entre aqueles que deveriam estar sob nossa proteção, talvez porque, ao desafiar nossos filhos e alunos, estão, na realidade, desafiando também a nós. Não adianta negar, a verdade pode ser facilmente comprovada por qualquer pessoa que assim tiver algum interesse. Eles agem contra os princípios, contra a moral, contra qualquer intenção de se estabelecer a ordem. 

É ingenuidade pensar que o bullying é simplesmente um ataque pessoal a alguma pessoa, pois as razões para que ele aconteça vão muito além disso. O bullying é um ataque contra todas as pessoas que estabelecem princípios e que pensam a ordem de algum lugar de convivência comum. É por isso que qualquer tentativa isolada de vencê-lo em nossas escolas pode estar fadada ao fracasso e à frustração.

Ora, se a luta do praticante do bullying é contra o sistema e as leis e princípios de algum lugar (nossa casa, escola ou sociedade), o combate tem que contar com mais agentes dispostos a vencer por meio do bem. Sozinha, a família pode ver-se tão intimidada quanto a própria vítima do bullying. Unida à escola, que, por sua vez, precisa ser amparada por outras pessoas que querem a paz dentro de seus muros, a família ganha força, apoio e esperança de vencer esse terrível mal.

Muito além da união, encontramos a unidade. Esta é evidenciada por atitudes em consonância a pensamentos e objetivos que almejam, de igual modo, a paz. Somente essas características podem ser capazes de, enfim, vencer a luta contra o mal conhecido como bullying. Por mais dura que seja a batalha contra essa prática (não simplesmente contra o praticante), os benefícios da vitória são compensadores.
A vitória, certamente, permitirá que nossas crianças, adolescentes e jovens passem a valorizar o bem, entendendo-o, de fato, como o melhor caminho a ser seguido.

*Coordenadora Pedagógica do Planeta Educação e Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família.

Bullying a forma desumana de se autopromover


Bullying  nada mais é que  um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.Podemos perfeitamente dizer que é a lei do maior para o menor, do mais forte para o mais fraco. Há Estudos recentes comprovam que vitimas do bullying possuem ou desenvolvem 20% a mais de chances de transtornos emocionais, alimentares e de relacionamentos, tornando se assim pessoas 45% mais propicias a depressão.O Bullying é um problema mundial de auta incidência podendo acontecer em qualquer lugar sendo o índice maior em escolas, faculdades e em convívios familiares onde 30% dos causadores desconhecem o mal que fazem nas vitimas de tais praticas.A grande maioria das pessoas que testemunham de perto suas consequências negligenciam por medo de se tornarem as próximas vitimas, fazendo com que os autores permaneçam na maioria dos casos impunes.O Brasil no ano de 2010 se fez um estudo/pesquisa e foi diagnosticado que o bullying é comum em alunos da 5° e 6° série primaria sendo Brasília, Belo Horizonte e Curitiba as cidades com maior incidência.Os autores desta agressão geralmente são pessoas pouco sociáveis e oriundas de famílias desestruturadas onde o convívio sentimental seja praticamente nulo. Os praticantes normalmente o fazem como forma de autoafirmação sentem prazer no sofrimento alheio e desse sofrimento sugam sua autoafirmação se sentindo seres superiores.

No Brasil, a gravidade do ato pode levar os jovens infratores à aplicação de medidas socioeducativas. De acordo com o código penal brasileiro, a negligência com um crime pode ser tida como uma coautoria. Na área cível, e os pais dos bullies podem, pois, ser obrigados a pagar indenizações e podem haver processos por danos morais. Os atos de assédio escolar configuram atos ilícitos, não porque não estão autorizados pelo nosso ordenamento jurídico, mas por desrespeitarem princípios constitucionais  ( dignidade da pessoa humana) e o código civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. A responsabilidade pela prática de atos de assédio escolar pode se enquadrar também no código de defesa do consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de assédio escolar que ocorram nesse contexto.

No estado brasileiro do Rio de Janeiro, uma lei estadual sancionada em 23 de setembro de 2010 institui a obrigatoriedade de escolas públicas e particulares notificarem casos de bullying à polícia. Em caso de descumprimento, a multa pode ser de três a 20 salários mínimos (até R$ 10.200) para as instituições de ensino.

Na cidade brasileira de Curitiba todas as escolas têm de registrar os casos de bullying em um livro de ocorrências, detalhando a agressão, o nome dos envolvidos e as providências adotadas.

Bullying além de ser uma forma desprezível também constitui crime e a negligencias nas denuncias da mesma forma constitui crime. Bullying a forma desumana de um prepotente se auto afirmar na fraqueza alheia, pensando assim ser a forma mais fácil de sobrepor aos de mais. Bullying é crime e figura entre um dos motivadores de suicídio, dá violência, não seja autor e não permita terem ainda mais vitimas denuncie.

Fonte: YouvNews


Bullying e o instinto animal


Muito se tem falado sobre o bullying e, neste texto, abordarei o tema correlacionando-o com os instintos animais sob a ótica da Lei da Matilha.

Todos os animais têm instintos, que regem seus comportamentos. Todos os humanos são mamíferos e, em nós, são nítidos os instintos de sobrevivência e de perpetuação da espécie em cada um dos seus indivíduos. A grande diferença é que os humanos, por serem inteligentes, desenvolveram a civilização e a cidadania.  A lei instintiva da matilha procura eliminar seu componente mais fraco, mais lento ou defeituoso, pois estes enfraquecem a matilha, enquanto os civilizados os protegem.

Assim também temos resquícios de comportamentos animal nos relacionamentos sociais humanos.

Atualmente a educação de valores humanos da cidadania também foi atingida pelos acelerados avanços da civilização. A emancipação da mulher, a substituição da educação familiar pela escolar (com as crianças sendo levadas às escolas até com menos de 1 ano de idade), as dificuldades financeiras, o consumismo etc. trouxeram grandes diferenças nos funcionamentos das famílias. As crianças foram saciadas nas suas necessidades, o que é natural, e nas vontades, que precisariam ser educadas. Elas tornaram-se tiranas, mandando nos seus pais, chegando até mesmo a agredi-los fisicamente, por falta de limites e educação.

Pelo silêncio e não reação, os pais confirmaram esta tirania e os amados filhinhos tornaram-se tiranos não frustráveis, e quando frustrados reagem com violência. Ao agir, estas crianças seguem os conceitos humanos mais primitivos, quase instintos animais. Na família, o filho mais fraco é protegido pelos seus pais, mas seus irmãos em geral judiam dele, tiram vantagens pessoais da fraqueza dele: é o bullying sendo praticado dentro de casa.

Na escola, os alunos não aprendem somente o que os “professoras ensinam”, pois eles imitam e copiam os comportamentos dos mais fortes, nunca do mais fraco. Os pais em casa, também por ficarem tanto tempo fora de dela, quando estão juntos com os filhos tornam-se tolerantes e submissos aos caprichos e delinquências dos tiranos domésticos.

Os tiranos domésticos tiranizam também nas ruas. A grande oportunidade para ser líder é descobrir quem não reage, o que tem medo, o que pode ser dominado. Esta não-reação é o principal componente para que o bullying prossiga. O agressor se torna líder e impõe à vítima toda a sorte de abusos. Este vítima, além da dificuldade de reagir, torna-se refém das suas ameaças e entra em pânico. É quando apresenta calado os sinais de abusado pelo bullying.

Não há dois líderes numa matilha. Um é líder e todos os outros são seguidores. Quando um mais fraco é atacado pelo líder, é atacado também pelos seus seguidores. Assim ocorre com o bullying. Quando um líder ataca a sua vítima, naturalmente outros jovens sem educação adotam o mais forte como líder e também atacam a mesma vítima. Somente entre os humanos educados é que emerge aquele que vai proteger a vítima, pois não somos animais.

Compreendendo-se esta dinâmica, os pais e professores terão melhores condições de combater o bullying, interferindo com ajuda à vítima e educação do líder abusador e seus seguidores. A vítima tem que aprender a se defender. O líder e seus seguidores têm que aprender a ser cidadãos. Estes trabalhos devem ser feitos na parceria entre pais e professores para transformar maus líderes em seguidores. Portanto, alguém tem que ser mais forte do que eles, já que esta é a linguagem que eles entendem.

Içami Tiba*

*Médico Psiquiatra


Se a criança não quer voltar para a escola: deve-se concordar ou propor que ela tente se reconciliar com a outra criança?


Mudar de escola pode resolver o problema em um primeiro momento, mas não necessariamente a longo prazo. Pode afastar a vítima do agressor ou o agressor da vítima, mas se a criança não adquirir recursos pra se defender poderá se tornar vítima na nova escola. 

Do mesmo modo, se a criança costuma agredir seus colegas, é provável que ela encontre novas vítimas potenciais na nova escola. Então, essa decisão de mudar de escola não deve ser a primeira atitude a ser tomada. Antes disso, é importante conversar com a criança sobre a real necessidade e motivação para mudar ou não de escola. É fundamental, também, buscar estratégias de enfrentamento e resolução do problema junto à escola do seu filho. É importante lembrar que trocar de escola afasta a criança vítima do seu agressor, mas também de seus amigos e professores com quem possui uma relação positiva." 

Juliane Callegaro Borsa, doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)


Qual é a melhor maneira de a escola lidar com o bullying?


A escola deve intervir, sobretudo, pensando na prevenção e não na punição. Ela pode desenvolver, por exemplo, atividades curriculares e extracurriculares que visem a promover práticas pró-sociais. Na sala de aula, na educação física e em atividades de grupo podem ser trabalhados temas como amizade, cooperação, empatia, espírito de equipe, respeito às diferenças. 

Também é essencial que a escola estabeleça um bom canal de comunicação com os pais. O diálogo e a criação de políticas que envolvam pais e escola permitem que as ações sejam mais sólidas e consistentes, e não medidas isoladas e sem força. 

É importante deixar claro, também, que se a escola não tomar providências efetivas para cessar uma situação de bullying, os pais podem recorrer ao Judiciário, solicitando indenização por danos morais e ressarcimento de possíveis despesas com psicoterapia ou medicamentos, por exemplo. Do mesmo modo, os pais podem ser responsabilizados pelos atos de agressão praticados pelos filhos. Já existem, inclusive, decisões nesse sentido. A própria escola pode informar aos pais das crianças agressoras que, em caso de omissão dos mesmos, ela poderá encaminhar o caso ao Conselho Tutelar e, em casos extremos, diretamente, ao Ministério Público ou ao Judiciário. Tanto o professor quanto a escola (e todos os seus funcionários) devem intervir perante uma situação de bullying, sob as penas da lei, conforme Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 

Juliane Callegaro Borsa, doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Cyberbullying: a violência virtual


Na internet e no celular, mensagens com imagens e comentários depreciativos se alastram rapidamente e tornam o bullying ainda mais perverso. Como o espaço virtual é ilimitado, o poder de agressão se amplia e a vítima se sente acuada mesmo fora da escola. E o que é pior: muitas vezes, ela não sabe de quem se defender

Todo mundo que convive com crianças e jovens sabe como eles são capazes de praticar pequenas e grandes perversões. Debocham uns dos outros, criam os apelidos mais estranhos, reparam nas mínimas "imperfeições" - e não perdoam nada. Na escola, isso é bastante comum. Implicância, discriminação e agressões verbais e físicas são muito mais frequentes do que o desejado. Esse comportamento não é novo, mas a maneira como pesquisadores, médicos e professores o encaram vem mudando. Há cerca de 15 anos, essas provocações passaram a ser vistas como uma forma de violência e ganharam nome: bullying (palavra do inglês que pode ser traduzida como "intimidar" ou "amedrontar"). Sua principal característica é que a agressão (física, moral ou material) é sempre intencional e repetida várias vezes sem uma motivação específica. Mais recentemente, a tecnologia deu nova cara ao problema. E-mails ameaçadores, mensagens negativas em sites de relacionamento e torpedos com fotos e textos constrangedores para a vítima foram batizados de cyberbullying. Aqui, no Brasil, vem aumentando rapidamente o número de casos de violência desse tipo. 

Nesta reportagem, você vai entender os três motivos que tornam o cyberbullying ainda mais cruel que o bullying tradicional. 

- No espaço virtual, os xingamentos e as provocações estão permanentemente atormentando as vítimas. Antes, o constrangimento ficava restrito aos momentos de convívio dentro da escola. Agora é o tempo todo. 

- Os jovens utilizam cada vez mais ferramentas de internet e de troca de mensagens via celular - e muitas vezes se expõem mais do que devem. 

- A tecnologia permite que, em alguns casos, seja muito difícil identificar o(s) agressor(es), o que aumenta a sensação de impotência. 

Raissa*, 13 anos, conta que colegas de classe criaram uma comunidade no Orkut (rede social criada para compartilhar gostos e experiências com outras pessoas) em que comparam fotos suas com as de mulheres feias. Tudo por causa de seu corte de cabelo. "Eu me senti horrorosa e rezei para que meu cabelo crescesse depressa." 

Esse exemplo mostra como a tecnologia permite que a agressão se repita indefinidamente (veja as ilustrações ao longo da reportagem). A mensagem maldosa pode ser encaminhada por e-mail para várias pessoas ao mesmo tempo e uma foto publicada na internet acaba sendo vista por dezenas ou centenas de pessoas, algumas das quais nem conhecem a vítima. "O grupo de agressores passa a ter muito mais poder com essa ampliação do público", destaca Aramis Lopes, especialista em bullying e cyberbullying e presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ele chama a atenção para o fato de que há sempre três personagens fundamentais nesse tipo de violência: o agressor, a vítima e a plateia. Além disso, de acordo com Cléo Fante, especialista em violência escolar, muitos efeitos são semelhantes para quem ataca e é atacado: déficit de atenção, falta de concentração e desmotivação para os estudos (leia mais na próxima página). 

Esse tormento permanente que a internet provoca faz com que a criança ou o adolescente humilhados não se sintam mais seguros em lugar algum, em momento algum. Na comparação com o bullying tradicional, bastava sair da escola e estar com os amigos de verdade para se sentir seguro. Agora, com sua intimidade invadida, todos podem ver os xingamentos e não existe fim de semana ou férias. "O espaço do medo é ilimitado", diz Maria Tereza Maldonado, psicoterapeuta e autora de A Face Oculta, que discute as implicações desse tipo de violência. Pesquisa feita este ano pela organização não governamental Plan com 5 mil estudantes brasileiros de 10 a 14 anos aponta que 17% já foram vítimas de cyberbullying no mínimo uma vez. Desses, 13% foram insultados pelo celular e os 87% restantes por textos e imagens enviados por e-mail ou via sites de relacionamento.

Fonte: Nova Escola

A gestão escolar e a mediação dos conflitos na escola


Minha experiência de 41 anos dentro de escolas públicas e privadas, em todos os níveis, indica que cerca de 15% da comunidade de alunos, pais, professores e funcionários é capaz de comprometer a administração escolar e o precioso tempo dos gestores. É onde está o ninho da serpente, fonte precípua dos conflitos e aborrecimentos.

No entanto, são adultos, adolescentes ou crianças que necessitam da orientação dos educadores. É óbvio que os outros 85% têm demandas, cobranças e pontualmente geram desavenças, mas se enquadram dentro da normalidade. Como reduzir os conflitos? Elenco alguns motes ou regrinhas de ouro.

A primeira recomendação é difundir a cultura de que a diversidade é uma riqueza. Isso torna o ambiente escolar mais amistoso e menos conflituoso. Somos diversos, porém não adversos.

É preciso também combater diuturnamente o bullying, uma das principais fontes de desavenças entre alunos. A intensidade do bullying indica o quanto moralmente a escola está comprometida. É responsabilidade dos gestores e professores criar duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a implementação de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos diferentes, sem esquecer da ação vigilante, proativa e punitiva sobre os agressores.

É preciso atacar o problema no nascedouro, antes que a marola vire uma tsunami. No início de uma contenda, o mediador deve aliviar a tensão com um toque de humor ou com uma frase de efeito, como a clássica de Shakespeare: “A tragédia começa quando os dois lados acham que têm razão”.

Encarar o problema de frente e não apenas tangenciar é uma necessidade. Mergulhar fundo. Muitas vezes, temos de contar com o decurso dos dias. O travesseiro é um bom conselheiro.

Também é necessário minimizar as posturas antagonistas de alguns pais – como se família e escola em trincheiras opostas estivessem. A escola erra sim e a família também. A tolerância ao erro, dentro de certos limites, é uma virtude e um aprendizado para a vida adulta. Sigmund Freud bem assevera: “Educar é uma daquelas atividades em que errar é inevitável”.

Ser bom ouvinte é qualidade indispensável. A natureza nos concedeu uma boca e dois ouvidos. A mensagem anatômica é explícita: ouça os dois lados e fale menos. É comum, nos arranca-rabos entre alunos, haver duas versões antagônicas. E, quando a versão contraria os fatos, a primeira vítima é o fato.

A hierarquia e a disciplina, requisitos indispensáveis para uma boa organização, precisam ser mantidas. Ao não punir convenientemente os alunos, os gestores e professores pensam que estão sendo liberais. No entanto, então sendo concessivos, bonzinhos, e a futura vida profissional cobrará de nossos alunos respeito às normas e à hierarquia. A escola é um laboratório para a vida adulta.

A normatização tem papel importante na escola, que necessita de uma boa rotina e, para tanto, de regras bem estabelecidas e bem cumpridas. Fazem parte de uma boa rotina professores pontuais e com boa didática, funcionários solícitos, suporte tecnológico que funciona, banheiros e corredores asseados.

E, por fim, é preciso transmitir valores. O educando precisa de um projeto de vida. Desde pequeno, é importante que desenvolva valores inter e intrapessoais, como ética, cidadania, respeito ao próximo, responsabilidade socioambiental e autonomia, o que enseja adultos flexíveis e versáteis, que sabem trabalhar em grupo, abertos ao diálogo, às mudanças e às novas tecnologias. De todas as virtudes, a mais importante é a solidariedade: base das relações sociais e a partir da qual se fundamenta uma convivência pacífica.

Jacir J. Venturi*

*Diretor de escola, professor, palestrante e autor de livros, é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).


Os lobos e o bullying no mundo virtual 


Lobos são identificados como caçadores de ovelhas. Já lobos com pele de cordeiro são mais difíceis de ser identificados. Com o advento da internet e a recente popularização dos computadores pessoais e smartphones, o mundo físico (off-line ou desconectado) em que lobos são lobos, cordeiros são cordeiros, dá lugar ao mundo virtual (on-line ou conectado), criado pela tecnologia e inovações digitais. 

Nessa realidade que mistura o real e o virtual, lobos com pele de cordeiro encontram terreno fértil para o cyberbullying - termo de origem inglesa composto pelas palavras cyber (digital) e bullying, tendo bully um significado próximo ao nosso “valentão” - ou “perturbação online”.

Assim, crianças e jovens podem ser vítimas de agressões virtuais que causam transtornos como depressão, isolamento e tristeza profunda, recebidas em redes sociais, SMS ou celulares. Combater esse fenômeno representa uma tarefa árdua. Há um consenso por parte de especialistas de que quanto maior é a interferência dos vários protagonistas da vida das vítimas - pais, professores e comunidade -, maiores são as chances de êxito.

A escola tem papel fundamental nesse combate através do estímulo à convivência com o diferente e a construção de práticas solidárias, com atividades esportivas e manifestações artísticas como teatro, dança, sarau de poesias etc. Isso pode reduzir os impactos do cyberbullying. A tarefa dos pais é gigantesca: criar laços de proximidade com os filhos, promovendo constante diálogo, convívio e cumplicidade, acompanhando-os de perto no mundo virtual e real. Dessa forma, são grandes as chances de reduzir os danos das perturbações do cyberbullying.

Claudio Paris*

*Claudio Paris é licenciado em Ciências e Biologia e pós-graduado em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). É também professor de colégio conveniado ao Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva, músico e gestor da Nova Geração, comunidade terapêutica que assiste jovens vítimas de exclusão social e drogadição



Considerações jurídicas sobre o bullying sob a ótica da responsabilidade civil


O bullying pode ser compreendido como um conjunto de ações caracterizadas com a exposição continuada ao longo do tempo a um comportamento repetitivamente agressivo entre crianças, adolescentes e jovens em idade escolar, que envolve um desequilíbrio de poder.

Originalmente, o bullying era uma expressão para sinalizar o assédio moral praticado entre crianças e adolescentes. No entanto, nos anos de 2007 até 2011, ganhou enúmeras variantes como o mobile bullying (praticado por mensagens de celular) e confundido com o mobbing, conhecido nos Estados Unidos e na Inglaterra como bullying at the work e cyberbullying.

O bullying é um gênero de uma espécie de agressão denominada assédio moral, pois, segundo o conceito de Marie-France Hirigoyen, o assédio moral é um conjunto de atitudes perniciosas e imperceptíveis, praticadas no dia a dia, com a finalidade de humilhar o outro de forma perversa.

A exposição contínua aos ataques do bullying torna suas vítimas inseguras e pouco sociáveis, ato que dificulta o pedido de auxílio. Outras sequelas são a passividade quanto às agressões sofridas, e um círculo restrito de amizades. Muitos passam a ter baixo rendimento escolar, resistindo e simulando doenças com o interesse de não comparecer mais às aulas ou até mesmo abandonando os estudos. Em casos mais sérios pode levar ao suicídio.

Qualquer variante do bullying é considerada ato ilícito, por assediar o bem-estar psíquico e físico da vítima. O código Civil Brasileiro prevê em seu artigo 927 o dever de indenizar o ato ilícito. Da mesma forma pontifica em seu artigo 186 que os danos eminentemente morais também deverão ser indenizados.

Neste diapasão, a Constituição Federal, em seu artigo 5.º, inciso X, prevê a indenização nos casos de violação a qualquer direito fundamental do ser humano. Sem possuir a moral incólume, o indivíduo deixa de obter amor próprio, não acrescenta valores ao seu íntimo, não contribui com a sociedade e não evolui como pessoa, nem consegue assimilar conhecimentos de qualquer ordem.

O bullying pode ocorrer em escolas públicas ou particulares, em lugares públicos ou em ambiente cibernético, neste, em particular, observamos que os agressores sempre estão sob a vigilância de alguém, sejam os pais, sejam os donos de escolas.

No tocante ao dever indenizatório nos casos de bullying, deve-se ter em mente que a responsabilidade civil da escola ou dos pais é objetiva, ou seja, independe de culpa ou dolo. O que determinará a existência do bullying é a ligação entre o ato de assediar e os danos decorrentes dele.

Já o responsável pela indenização será determinado conforme o local de ocorrência da agressão, ou seja, se ocorrer dentro do ambiente escolar, será da instituição de ensino, ou, se ocorrer enquanto permanecer em companhia da família, será dela a responsabilidade.

No que tange à instituição de ensino, observa-se que o art. 932, IV do Código Civil trata da responsabilidade de escola que, mediante uma remuneração, mantém sob sua guarda e orientação pessoas para serem educadas. Essa categoria de pessoas responde objetivamente e solidariamente conforme os artigos 933 e 942, parágrafo único do Código Civil, pelos danos causados a um colega ou a terceiros por atos ilícitos durante o tempo que exercem sobre eles vigilância e autoridade.

Caso ocorra quando os filhos estão sob a guarda dos pais, deve-se ter em mente que eles têm o dever de garantir o conforto, a educação e transmitir valores morais para seus filhos com o intuito de prepará-los para o convívio social. Também é parte desse poder a previsão feita pelo Código Civil brasileiro de que os pais são sempre responsáveis pelos atos dos filhos menores, independentemente de culpa.

Se os filhos praticarem bullying cibernético no computador doméstico, lugares públicos ou em lan houses enquanto estiverem sob a vigilância dos pais, serão estes os responsáveis pela indenização dos danos decorrentes da agressão. Esses fundamentos jurídicos são trazidos pelos artigos 1.634, 932, inciso I, e 933 do Código Civil brasileiro.

Deve-se ressaltar que é do modelo de educação familiar que emanam regras de convívio social e modelos de conduta nas relações intersubjetivas que, até os oito anos de idade, são recebidos, processados e reproduzidos como corretos em ambientes externos, como escolas, colégios e ambientes cibernéticos, por isso, a responsabilidade objetiva da família.

Portanto bullying é espécie de assédio moral indenizável, cuja responsabilidade civil objetiva é das escolas e dos pais, dependendo do local onde ocorra.

Alexandre Saldanha*

*Advogado, palestrante, é fundador da Liga Anti-bullying, especialista em bullying, em mobbing e em direitos da personalidade

Fonte: Gazeta do Povo


A violência escolar (bullying) e seu contexto


Eric Debarbieux e Catherine Blaya, no livro Agresividad injustificada, bullying y violência escolar (Ortega: 2010, coordenadora), ao abordarem o tema “sociologia e violência escolar: um enfoque contextual” (Debarbieu e Blaya: 2010, p. 355 e ss.), concluíram que a violência escolar e o bullying não podem ser enfocados fora da perspectiva contextual e sociológica, sublinhando que os fenômenos violentos necessariamente estão ligados aos seus contextos político, social, comunitário, moral e educativo.

A escola, que é o “locus” mais frequente do bullying, não pode se isolar da comunidade (do bairro e da cidade), devendo conviver da forma mais interativa possível com suas circunstâncias sociais e econômicas, que são também muito relevantes para o estudo e prevenção da violência escolar.
A violência dentro das escolas, no entanto, não são geradas exclusivamente por fatores externos. Também é relevante entender a dinâmica diária de cada escola, porque ela constitui fator concorrente para a citada violência.

A vida diária, a forma como é administrada, o relacionamento dos professores com os alunos, com os pais de alunos e com a comunidade, o trabalho em equipe etc., tudo isso é importante para entender as razões (as causas) da violência escolar. Não são as teorias monocausais que explicam essa violência, sim, as multifatoriais.

A violência escolar (dizem os autores mencionados) deve ser enfoca desde e para a comunidade de que faz parte. Parece muito evidente que as comunidades mais desfavorecidas, mais carentes, mais desorganizadas, reúnem mais fatores viabilizadores da violência, o que maximiza a possibilidade de altos índices desse fenômeno. Todavia, isso não constitui uma regra absoluta.

Vários países pobres ou emergentes, surpreendentemente (incluindo-se o Brasil), em pesquisas comparadas, apresentam taxas de violência escolar não exorbitantes. Aliás, em algumas situações foram constatas condições bastantes favoráveis para a chamada “paz escolar”. Os fortes vínculos sociais entre a escola e a comunidade ou entre a escola e os pais de alunos configuram “fatores de proteção” consideráveis, que explicam o paradoxo (desde a perspectiva do senso comum e científico) da ausência de violência fora dos padrões internacionais em escolas altamente precárias e miseráveis.
Uma boa política de prevenção da violência escolar passa pelo fortalecimento dos vínculos da escola com os diferentes setores da comunidade, indo desde as famílias, associações de bairro, instituições locais, ONGs, associações religiosas etc., até à polícia (que no seu formato comunitário pode muito contribuir para a prevenção dessa violência).

Do trabalho de Debarbieux e Blaya (2010, p. 355 e ss.) podemos ainda extrair outras interessantes conclusões:

1ª) Que existem atualmente incontáveis programas de prevenção do bullying escolar (Wilson e Lipsey, 2006), porém, não é certo que as soluções desses programas sejam universais, isto é, válidas para todos os lugares e todos os países, independentemente das suas condições culturais, históricas, sociológicas, políticas etc.;

2ª) Que os programas de estudo e de prevenção da violência escolar devem estar coligados aos seus contextos externos e também internos (Gottfredson y Gottfredson, 1985);

3ª) Que a violência escolar não se deve unicamente a fatores externos (condições do bairro, pobreza, baixo nível das famílias, violência familiar, educação pobre dos pais, disciplina dura dos pais, permissividade (Malinosky-Rummell e Hansen, 1993) etc.
Sabe-se, no entanto, que o maltrato da criança tem forte relação com a violência na escola (Smith e Thomberry, 1995). De qualquer modo, nenhum fator isoladamente pode ser apontado como a causa absoluta da violência escolar;

4ª) Que a pobreza constitui fator muito relevante (porque pode ensejar a concorrência de vários fatores de risco), mas nem ela é a única determinante da violência escolar (Fortin, 2003);

5ª) Que o risco de um professor ser agredido por um aluno é quase quatro vezes maior nas escolas precárias (de atenção prioritária) (Houllé, 2007);

6ª) Que não são determinantes exclusivamente os fatores externos, porque a instituição escolar também participa da construção e da desconstrução da violência, sendo fundamentais a vida em equipe, o sentido comunitário da escola, os valores compartilhados entre as escolas e a comunidade, as expectativas dos pais em relação aos filhos, o reconhecimento dos pais da importância da escolaridade do filho, a identificação do aluno com a escola, a liderança do diretor etc.;

7ª) Que o clima escolar (de disciplina, ordem, trabalho coletivo, contato com o mundo exterior etc.) tem forte vínculo com a vitimização (Gottfredson y Gottfredson, 1985), mas não pode ser apontado como o único fator da violência escolar, porque também cabe considerar o alunado (grau de interiorização das ordens, respeito ao semelhante etc.), a organização do trabalho em equipe, a administração da instituição, o risco de ser punido (quanto maior mais prevenção e vice-versa), que é regido pelo chamado “acionismo” (como se vê, quando o agressor impõe silêncio ao agredido não é por razões de honra, sim, para garantir a impunidade);

8ª) Quanto mais apoio do grupo a potencial vítima tem, menos violência acontece (em geral as vítimas são isoladas, ou seja, não contam com a proteção grupal) (Jeffrey e Sun, 2006);

9ª) A vinculação social (capital social) com a escola constitui um forte fator de proteção (pais que frequentam a escola, atividades da escola junto com a comunidade, abertura da escola para a comunidade, ações culturais comuns etc.);

10ª) O paradoxo da baixa ou normal violência escolar em contextos extremamente difíceis ou precários. Dentre os vários estudos comparados que foram analisados, há um feito no Brasil, em algumas favelas; seria previsível a ocorrência de um altíssimo índice de violência escolar, porém, tendo em conta vários fatores protetores (pais que vejam sentido na educação do filho, pais que frequentam a escola, sentimento de pertencimento à instituição escolar etc.), o que se constatou foi uma surpresa: as escolas brasileiras não são mais violentas que as de outros países mais desenvolvidos; três fatores foram apontados: (a) a criança não fica todo o período diurno na escola (as aulas ou são matutinas ou são vespertinas; (b) as pessoas já incorporaram na vida cotidiana a dominação vivida por essas classes sociais carentes (internalização da violência estrutural, que é fruto da submissão colonial e escravagista – vitória da violência simbólica da dominação); (c) forte capital social das escolas (ou seja: participação comunitária, trabalhos conjuntos com a sociedade, mobilização associativa etc.);

11ª) A polícia pode desempenhar papel relevante na prevenção da violência escolar, porém, não com sentido repressivo, sim, com o fortalecimento do vínculo de proximidade, com a associação da segurança com a escola, participação de reuniões com a administração da escola, com professores, com os serviços sociais etc.

Luiz Flávio Gomes*

*é Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e co-editor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me: www.professorlfg.com.br.

 

O fenômeno bullying e as suas consequências psicológicas


Na atualidade, um dos temas que vem despertando cada vez mais, o interesse de profissionais das áreas de educação e saúde, em todo o mundo, é sem dúvida, o do bullying escolar. Termo encontrado na literatura psicológica anglo-saxônica, que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, em estudos sobre o problema da violência escolar.

Sem termo equivalente na língua portuguesa, define-se universalmente como “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento”. Insultos, intimidações, apelidos cruéis e constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, psíquicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying.

O bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar “traumas” ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos. Possui ainda a propriedade de ser reconhecido em vários outros contextos, além do escolar: nas famílias, nas forças armadas, nos locais de trabalho (denominado de assédio moral), nos asilos de idosos, nas prisões, nos condomínios residenciais, enfim onde existem relações interpessoais.

Estudiosos do comportamento bullying entre escolares identificam e classificam assim os tipos de papéis sociais desempenhados pelos seus protagonistas: “vítima típica”, como aquele que serve de bode expiatório para um grupo; “vítima provocadora”, como aquele que provoca determinadas reações contra as quais não possui habilidades para lidar; “vítima agressora”, como aquele que reproduz os maus-tratos sofridos; “agressor”, aquele que vitimiza os mais fracos; “espectador”, aquele que presencia os maus-tratos, porém não o sofre diretamente e nem o pratica, mas que se expõe e reage inconscientemente a sua estimulação psicossocial.

Trata-se de um problema mundial, encontrado em todas as escolas, que vem se disseminado largamente nos últimos anos e que só recentemente vem sendo estudado em nosso país. Em todo o mundo, as taxas de prevalência de bullying, revelam que entre 5% a 35% dos alunos estão envolvidos no fenômeno. No Brasil, através de pesquisas que realizamos, inicialmente no interior do estado de São Paulo, em estabelecimentos de ensino públicos e privados, com um universo de 1.761 alunos, comprovamos que 49% dos alunos estavam envolvidos no fenômeno. Desses, 22% figuravam como “vítimas”; 15% como “agressores” e 12% como “vítimas-agressoras”.

Segundo especialistas, as causas desse tipo de comportamento abusivo são inúmeras e variadas. Deve-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas. Em nossos estudos constatamos que 80% daqueles classificados como “agressores”, atribuíram como causa principal do seu comportamento, a necessidade de reproduzir contra outros os maus-tratos sofridos em casa ou na escola. Em decorrência desse dado extremamente relevante, nos motivamos em pesquisas e estudos, que nos possibilitou identificar a existência de uma doença psicossocial expansiva, desencadeadora de um conjunto de sinais e sintomas, a qual denominamos SMAR - Síndrome de Maus-tratos Repetitivos.

O portador dessa síndrome possui necessidade de dominar, de subjugar e de impor sua autoridade sobre outrem, mediante coação; necessidade de aceitação e de pertencimento a um grupo; de auto-afirmação, de chamar a atenção para si. Possui ainda, a inabilidade de expressar seus sentimentos mais íntimos, de se colocar no lugar do outro e de perceber suas dores e sentimentos.

Esta Síndrome apresenta rica sintomatologia: irritabilidade, agressividade, impulsividade, intolerância, tensão, explosões emocionais, raiva reprimida, depressão, stress, sintomas psicossomáticos, alteração do humor, pensamentos suicidas. É oriunda do modelo educativo predominante introjetado pela criança na primeira infância. Sendo repetidamente exposta a estímulos agressivos, aversivos ao seu psiquismo, a criança os introjeta inconscientemente ao seu repertório comportamental e transforma-se posteriormente em uma dinâmica psíquica “mandante” de suas ações e reações. Dessa forma, se tornará predisposta a reproduzir a agressividade sofrida ou a reprimi-la, comprometendo, assim, seu processo de desenvolvimento social.

As conseqüências para as “vítimas” desse fenômeno são graves e abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o absentismo e a evasão escolar. No âmbito da saúde física e emocional, a baixa na resistência imunológica e na auto-estima, o stress, os sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e o suicídio.

Para os “agressores”, ocorre o distanciamento e a falta de adaptação aos objetivos escolares, a supervalorização da violência como forma de obtenção de poder, o desenvolvimento de habilidades para futuras condutas delituosas, além da projeção de condutas violentas na vida adulta. Para os “espectadores”, que é a maioria dos alunos, estes podem sentir insegurança, ansiedade, medo e estresse, comprometendo o seu processo socioeducacional.

Este fenômeno comportamental atinge a área mais preciosa, íntima e inviolável do ser, a sua alma. Envolve e vitimiza a criança, na tenra idade escolar, tornando-a refém de ansiedade e de emoções, que interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida. A forte carga emocional traumática da experiência vivenciada, registrada em seus arquivos de memória, poderá aprisionar sua mente a construções inconscientes de cadeias de pensamentos desorganizados, que interferirão no desenvolvimento da sua autopercepção e auto-estima, comprometendo sua capacidade de auto-superação na vida.

Dependendo do grau de sofrimento vivido pela criança, ela poderá sentir-se ancorada a construções inconscientes de pensamentos de vingança e de suicídio, ou manifestar determinados tipos de comportamentos agressivos ou violentos, prejudiciais a si mesma e à sociedade, isto se não houver intervenção diagnóstica, preventiva e psicoterápica, além de esforços interdisciplinares conjugados, por toda a comunidade escolar. Nesse sentido podemos citar as recentes tragédias ocorridas em escolas, como por exemplo, Columbine (E.U.A.); Taiuva (SP); Remanso (BA), Carmen de Patagones (ARG) e Red Lake (E.U.A.).

Esta forma de violência é de difícil identificação por parte dos familiares e da escola, uma vez que a “vítima” teme denunciar os seus agressores, por medo de sofrer represálias e por vergonha de admitir que está apanhando ou passando por situações humilhantes na escola ou, ainda, por acreditar que não lhe darão o devido crédito. Sua denúncia ecoaria como uma confissão de fraqueza ou impotência de defesa. Os “agressores” se valem da “lei do silêncio” e do terror que impõem às suas “vítimas”, bem como do receio dos “espectadores”, que temem se transformarem na “próxima vítima”.

Algumas iniciativas bem sucedidas vem sendo implantadas em escolas dos mais diversos países, na tentativa de reduzir esse tipo de comportamento. De forma pioneira no país, implantamos um programa antibullying, denominado de “Programa Educar para a Paz”, por nós elaborado e desenvolvido, em uma escola de São José do Rio Preto. Como resultado, obtivemos índices significativos de redução do comportamento agressivo e expressiva melhora nas relações entre alunos e professores, além de melhorias no desempenho escolar. O resultado das pesquisas iniciais, que detectava em torno de 26% de vitimização, já no segundo semestre de implantação do programa caiu para 10%; e após dois anos, o resultado mostrava que havíamos chegado a patamares toleráveis, com índices de apenas 4% de vitimização.

O “Programa Educar par a Paz”, pode ser definido como um conjunto de estratégias psicopedagógicas que se fundamenta sobre princípios de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. Recebeu esse nome por acreditarmos que a paz é o maior anseio das crianças envolvidas no fenômeno, bem como de toda a sociedade. Envolve toda a comunidade escolar, inclusive os pais e a comunidade onde a escola está inserida. As estratégias do programa incluem o trabalho individualizado com o envolvidos em bullying – visando à inclusão e o fortalecimento da auto-estima das “vítimas” e a canalização da agressividade do “agressor” em ações pro-ativas – bem como o envolvimento de toda escola, pais e a comunidade em geral.

Grupos de “alunos solidários” atuam como “anjos da guarda” daqueles que apresentam dificuldades de relacionamento, dentro e fora da escola. Grupos de “pais solidários” auxiliam nas brincadeiras do recreio dirigido, junto aos “alunos solidários”. A interiorização de valores humanistas, bem como a discussão de “situações-problema” de cada grupo-classe, são estratégias que visam a educação das emoções, sendo desenvolvidas semanalmente, durante o encontro entre os tutores e suas turmas. Ações solidárias em prol de instituições filantrópicas são objetivos comuns a serem alcançados pela escola e comunidade.

Acreditamos que se existe uma cultura de violência, que se dissemina entre as pessoas, podemos disseminar uma contracultura de paz. Se conseguirmos plantar nos corações das crianças as sementes da paz – solidariedade, tolerância, respeito ao outro e o amor -, poderemos vislumbrar uma sociedade mais equilibrada, justa e pacífica. Construir um mundo de paz é possível, para isso, deve-se primeiramente construí-lo dentro de cada um de nós.

O Programa Educar para a Paz, vem sendo implantado em inúmeras escolas de todo o país, por ser de fácil adaptação à realidade escolar e por apresentar resultados, num curto espaço de tempo da sua implantação. Atualmente, promovemos cursos de formação de multiplicadores do Programa, atendendo tanto à rede particular de ensino como a pública, além de cursos de pós-graduação, com fundamentação em Psicanálise e Inteligência Multifocal. Em decorrência do contato direto com profissionais de educação, detectamos um dado surpreendente: é expressivo o número de profissionais que foram envolvidos pelo fenômeno quando estudantes e que trazem consigo suas conseqüências.

Por constatarmos altos índices de sintomas de stress entre eles, incluímos no Programa, o cuidado com a saúde emocional e o controle do stress. Acreditamos que pessoas saudáveis educam, crianças saudáveis. Nossa equipe atua sob supervisão psicológica e é composta por pedagogos e psicólogos.
Cleodelice Aparecida Zonato Fante*

*Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidade de Ilhas Baleares, Espanha. Pesquisadora do Bullying Escolar. Autora do Programa Educar para a Paz. Conferencista.


Fonte: http://www.psicologia.org.br/internacional/pscl84.htm

Bullying - Violência nas escolas


Em todos os ambientes onde pessoas se encontram sejam eles: trabalho, família, igreja, tribos, estabelecimentos comerciais, hospitais e demais lugares, acontecem relações interpessoais.  Nas instituições escolares elas também se evidenciam e originam, muitas vezes, certos dissabores entre seus agentes.

Acontece que nestas relações há sempre um mais forte - ou que pelo menos demostra ser assim - e nessa ânsia pelo poder, o suposto mais forte, busca sua ou suas vítimas, através das quais seu domínio será exercido. Uma vez escolhida a vítima, o agressor irá maltratá-la, visando ridicularizá-la perante os demais colegas. Algumas pessoas acham por bem assistir a tudo como se nada estivesse ocorrendo - são os chamados espectadores. 

Neste contexto se estabelece o Bullying, que tem como protagonistas a vítima, o agressor, o espectador e seu círculo vicioso. A vítima é sempre humilhada, "perde" seus pertences constantemente, falta às aulas sem motivo, apresenta baixo rendimento escolar, demonstra insegurança ao se manifestar em público, apresenta manchas e arranhões pelo corpo - nem sempre as consegue justificar - prefere se manter afastado dos demais colegas.

O agressor é temido pelos demais, manipula seus espectadores - que o auxiliam em suas práticas- anda sempre em grupos, não suporta ser contrariado, apresenta atitudes agressivas por qualquer motivo, seu tom de voz é grosseiro, aparece com pertences, lanches de suas vítimas - alegando ter sido presenteado por elas.

O espectador assiste a tudo na maioria das vezes sem se manifestar, em alguns casos participa como cúmplice das agressões temendo contrariar o agressor, que por sua vez se voltará contra ele.
As formas de Bullying mais comuns em ambientes escolares são: agressões físicas e verbais; ameaças; brigas; chantagens; apelidos; trotes; roubo; racismo; xenofobias - aversão a tudo aquilo que vem de outras culturas e nacionalidades - intimidações; piadinhas; assédios; xingamentos; alienações; abusos; discriminações e várias outras formas de se ridicularizar uma pessoa.

Na maioria das vezes a vítima aceita todo o seu sofrimento sem dizer nada a ninguém, porém se transforma em uma pessoa triste, constantemente deprimida e sem perspectivas de lutar pelos seus direitos - nesse caso, ela poderá até optar pelo suicídio.

Talvez guarde essa mágoa durante anos e de repente, em um momento de explosão, invada sua escola atire nos colegas e em quem atravessar seu caminho, passando da condição de vítima para agressor - todavia sempre que a vítima opta por matar, ela pratica o suicídio em seguida.

Pode ser também que a vítima não consiga reproduzir seus maus tratos ao seu agressor, mas o fará assim que encontrar uma pessoa mais fraca do que ela, estabelecendo assim o tão temido círculo vicioso do Bullying.

É importante ressaltar que o Bullying, não é praticado apenas por alunos e entre alunos.
Conforme foi dito anteriormente, ele se traduz em todas as relações desiguais de poder em que um dos agentes sejam ridicularizados ou sofram qualquer tipo de agressão. Portanto, no ambiente escolar, pode acontecer também entre alunos e professores - inclusive alguns alunos, além de agredir física e verbalmente seus professores na escola - criam perfis em sites de relacionamentos visando ridicularizá-los ainda mais. Em contra partida alguns professores utilizam o recurso avaliação para punir e alienar seus alunos; abusam de seus conhecimentos e "poder" para humilhá-los.

A partir do momento em que o Bullying começa a ser praticado - independentemente de quem sejam seus protagonistas - ele gera situações de violência que podem se estender por toda a sociedade. É necessário que todos os envolvidos no processo educacional estejam atentos a este vilão que permeia a educação do século XXI e elaborem planos de ação em que valores como o respeito, amor, companheirismo e cidadania sejam constantemente abordados. Consequentemente os ambientes escolares que investirem nesses valores tão esquecidos em tempos atuais, estarão contribuindo para que a prática do Bullying venha a se extinguir de nossas escolas.
 
Angela Adriana de Almeida Lima*

*Graduada em Pedagogia com Habilitação em Supervisão Escolar - Pós graduada nas áreas de Psicopedagogia Institucional

Fonte: SOArtigos, disponível em http://www.soartigos.com/artigo/497/Bullying----Violencia-Nas-Escolas/

O bullying no ambiente escolar


No mundo moderno, onde os pais precisam cumprir vários compromissos e acabam terceirizando a educação, não é de se espantar o crescimento de situações de violência entre crianças e adolescentes. Diante de tanta correria, pode-se observar que a escola, televisão, revistas e internet acabaram assumindo o papel de trabalhar valores familiares.

Nossas crianças estão crescendo inseguras, com poucas habilidades para se relacionar, não admitem a frustração e têm atitudes agressivas. Neste contexto, surgem as agressões gratuitas aos que se comportam de maneira diferente, sejam elas verbais, físicas, psicológicas, sexuais ou virtuais, as diversas formas de Bullying.

Esses atos de violência costumam ocorrer de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos que se encontram impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Observa-se que em muitos casos os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, humilhar e amedrontar suas vítimas.

Em muitos casos, os meninos são agressivos e utilizam a força física, por isso suas atitudes são mais visíveis. Já as meninas, costumam praticar bullying na base de intrigas, fofocas e isolamento das colegas. Podem, com isso, passar despercebidas, tanto na escola quanto no ambiente doméstico.
As consequências para quem sofre o bullying são as mais variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo, de vivências, de predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões. Os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos, comportamentais e psíquicos, como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros.

Identificar os casos de bullying é de grande importância para facilitar o desenvolvimento saudável dessas crianças ou adolescentes. A observação dos pais sobre o comportamento dos filhos é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles.

Outro aspecto de valor inestimável é a percepção do talento inato desses jovens. Os adul­tos devem sempre estimulá-los e procurar métodos eficazes para que essas habilidades possam resgatar sua autoestima, bem como construir sua identidade social na forma de uma cidadania plena.

Por Clarissa Única Morales Rando* 

*Psicóloga Educacional do Colégio Mãe de Deus

Fonte: Colégio Mãe de Deus, http://www.maededeus.edu.br/coluna_educacao.aspx


Cyberbullying: agressão virtual e sem rosto


O termo bullying é de difícil tradução para o português, pois Bully, em inglês, tem significado próximo ao nosso "valentão", originado de Bull (touro), na sua designação literal. Dessa forma, bullying pode ser entendido como "intimidação", "humilhação" ou "sofrimento". Deixando a parte o estrangeirismo, a palavra cyberbullying foi escolhida por nós para designar um certo fenômeno, ainda pouco compreendido por especialistas, de uma violência originada muitas vezes sem intenção para tal. Apesar disso, ele resulta na vitimização da criança ou do jovem, causando-lhe sofrimento, perturbação e consequências danosas, tendo em vista que ele é incapaz de se defender contra essa modalidade de agressão na esfera virtual, o mundo www.

Com a utilização massiva da internet, o cyberespaço se interpõe ao espaço escolar, ocupando importante papel no processo de desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes.

Os sites de relacionamento, em especial os microblogs, como Twitter, e as redes sociais, como Facebook e Orkut, são apenas plataformas para se estabelecer vínculos virtuais. Na sociedade contemporânea, adolescentes e crianças criam suas redes sociais, em grande parte das vezes, na escola. Daí, tais redes migram, quase que instantaneamente, para o espaço virtual, reverberando vários aspectos do âmbito escolar, em especial a violência.

Nessa perspectiva, surge a maioria dos casos de cyberbullying, ou seja, o bullying praticado no cyberespaço. E a violência utilizada no mundo virtual reflete aspectos das práticas desse fenômeno no mundo real: sofrimento e humilhação da vítima e incapacidade de se defender das agressões.

Na escola, os agressores são facilmente identificados e confrontados pela autoridade escolar vigente, quando há denúncia da sua prática. Já nessa "perturbação online", isso é muito mais complexo, pois seu autor pode criar um perfil falso, uma comunidade do Orkut ou página de Facebook anônima, tornando seu combate muito mais difícil.

A crescente escalada do bullying e do cyberbullying, segundo especialistas, está ligada a uma cultura individualista e competitiva, que marca o advento da sociedade contemporânea. E o combate a esses fenômenos será tão mais exitoso quanto maior for a interferência dos variados protagonistas do espaço escolar: pais, professores, gestores e comunidade em geral.

Como professor fundador de um colégio em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, passei por uma interessante experiência. O grupo de teatro da escola, composto por professores e alunos, teve a iniciativa de organizar um projeto para despertar a atenção para o problema do bullying.

Para isso, criou uma apresentação que culminou com um vídeo e uma performance impactante e polêmica. Sem aviso prévio, os alunos membros do grupo assistiram a aulas com vários dizeres pintados na testa: “burro”, “nerd”, “retardado” etc.  No dia seguinte, substituíram as palavras por “tolerância”, “convivência” e “respeito”, entre outros, seguidos de um testemunhal em cada sala, convidando os demais colegas da escola a assistirem sua apresentação e se engajarem no combate a essa prática.

De acordo com a especialista Rosely Sayão, “o verdadeiro bullying só acontece em situações em que os mais novos se encontram por conta própria, sem a companhia e a tutela de adultos, sem ainda ter condições para tal. Caro leitor: se você tem filhos, não os prive da companhia de colegas diferentes no comportamento, na idade etc. Esses relacionamentos, mesmo conflituosos, são verdadeiras lições de vida para eles que, assim, aprendem a criar mecanismos de defesa, a avaliar riscos e, principalmente, a reconhecer as situações em que precisam pedir ajuda”.

Essa afirmação vai ao encontro do que também acredito. É por isso que defendo o estímulo à convivência com o diferente, a construção de práticas solidárias e o saber olhar para o outro. Isso pode ser praticado por meio do exercício da cidadania, de práticas esportivas e manifestações artísticas como teatro, dança e sarau de poesias, entre outras. Todos eles colaboram para fortalecer a solidariedade e o respeito mútuo, criando condições para reduzir as práticas de cyberbullying e minorar seus impactos.

Por Claudio Paris*

*Licenciado em Ciências e Biologia e pós-graduado em Educação, professor de colégio conveniado ao Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva
 
Fonte: Jornal Agora, publicado no dia 25/07/2012 - http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=5&n=31372

Bullying: quando a escola não é um paraíso


Gislaine, aluna do terceiro ano, de oito anos, estava faltando frequentemente à escola. Quando comparecia, chorava muito e não participava das aulas, alegando dores de cabeça e medo. Certo dia, alguns alunos procuraram a professora da turma dizendo que a garota estava sofrendo ameaças. Teria que dar suas roupas, sapatos e dinheiro para outra aluna, caso contrário apanharia e seria cortada com estilete.

Carlos, do sexto ano, foi vítima de alguns colegas por muito tempo, porque não gostava de futebol. Era ridicularizado constantemente, sendo chamado de gay nas aulas de educação física. Isso o ofendia sobremaneira, levando-o a abrigar pensamentos suicidas, mas antes queria encontrar uma arma e matar muitos dentro da escola.

 Os casos descritos acima são reais e revelam a agressão sofrida por crianças dentro da escola, colhidos e narrados por Cleo Fante como parte de uma pesquisa sobre a violência nas escolas, publicados em seu livro Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Esses e muitos outros casos de agressões e violências entre os alunos desde as séries iniciais até o Ensino Médio, demonstram uma realidade assustadora que muitos desconhecem, ou não percebem, trazendo à tona a discussão sobre o fenômeno bullying, o grande vilão de toda essa história. Mas o que é? Quais as causas? Como prevenir?

Significado do termo

A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Também adota aspecto de adjetivo, referindo-se a valentão, tirano. Como verbo ou como adjetivo, a terminologia bullying tem sido adotada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais. As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer por meio de brincadeiras maldosas e intimidadoras.

Desconhecimento e indiferença

Estudos indicam que as simples brincadeirinhas de mau gosto de antigamente, hoje denominadas bullying, podem revelar-se em uma ação muito séria. Causam desde simples problemas de aprendizagem até sérios transtornos de comportamento, responsáveis por índices de suicídios e homicídios entre estudantes.
Mesmo sendo um fenômeno antigo, mantém ainda hoje um caráter oculto, pelo fato de as vítimas não terem coragem suficiente para uma possível denúncia. Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte dos profissionais ligados à educação. Pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações interpessoais.

Consequências marcantes

As consequências afetam a todos, mas a vítima, principalmente a típica (ver quadro), é a mais prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua vida. Desenvolve ou reforça atitude de insegurança e dificuldade relacional, tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos.

Muitas vezes, mesmo na vida adulta, é centro de gozações entre colegas de trabalho ou familiares. Apresenta um autoconceito de menos valia e considera-se inútil, descartável. Pode desencadear um quadro de neuroses, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses que, a depender da intensidade dos maus-tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao homicídio seguido ou não de suicídio.

Em relação ao agressor, reproduz em suas futuras relações o modelo que sempre lhe trouxe resultados: o do mando-obediência pela força e agressão. É fechado à afetividade e tende à delinquência e à criminalidade.

Isso, de certa maneira, afeta toda a sociedade. Seja como agressor, como vítima, ou até espectador, tais ações marcam, deixam cicatrizes imperceptíveis em curto prazo. Dependendo do nível e intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados, gerando, até mesmo, atitudes sociopatas.

O papel da educação

A educação do jovem no século 21 tem se tornado algo muito difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para dedicarem-se à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte.

Os pais não conseguem educar seus filhos emocionalmente e, tampouco, sentem-se habilitados a resolver conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto.

A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar com a afetividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos maus-tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.

Os professores não conseguem detectar os problemas e, muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos em seu ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.

O que a família pode fazer?

Não há receita eficaz de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular, com características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, não se pode cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, sem que os educadores (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos e alunos) façam algo a respeito.

A educação pela e para a afetividade já é um bom começo. O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano.

O que a escola pode fazer?

Em relação à escola, em primeiro lugar, deve conscientizar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados.

Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também pode-se promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade, tendo como foco as relações humanas.

Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como ações atitudinais e não apenas conceituais. De nada valerá falar sobre a não violência, se os próprios profissionais em educação usam de atos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos. Ou seja, procurar evitar a velha política do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.

Por Geane de Jesus Silva*

*psicopedagoga, professora de Psicologia da Educação e coordenadora pedagógica, Jitaúna, BA.

Um comentário:

  1. Ótima matéria. Vale lembrar que no Brasil, a gravidade do ato pode levar os jovens infratores à aplicação de medidas sócio-educativas. De acordo com o código penal brasileiro, a negligência com um crime pode ser tida como uma coautoria. Na área cível, e os pais dos bullies podem, pois, ser obrigados a pagar indenizações e podem haver processos por danos morais.

    http://psicopedagogiaeaprendizagem.com/?p=103

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